top of page

13/04/13 - O trânsito de Coimbra

Uma das coisas que mais me chamou atenção na minha chegada a Coimbra e até hoje me causa admiração é a educação no trânsito que existe por aqui.



Como no Brasil eu tenho o hábito e o gosto por andar de bicicleta, além de fazer dela o meu meio de transporte, aqui em Portugal não podia ser diferente. Logo no primeiro mês vivendo aqui já pesquisei os preços das bicicletas e comprei uma usada (porém como nova) por apenas 120€. Aliás, as bicicletas aqui são bem mais baratas que no Brasil. 120€ equivalem a aproximadamente R$360,00, sendo que a bicicleta vem equipada com suspensão traseira e dianteira, freios a disco e sistema de transmissão da Shimano. A minha do Brasil tem apenas suspensão dianteira, freios a disco e sistema de transmissão de uma marca inferior e custou mais de R$830,00 (aproximadamente 280€).
Com a bicicleta comprada e agora sentindo a liberdade para ir a qualquer lugar de Coimbra ou cidades próximas sem precisar depender de autocarros (ônibus), comboios (trens) ou outros sistemas de transporte, surgiu-me uma preocupação: como será o trânsito daqui? Como seria dividir espaço com os carros, motos, ônibus e caminhões? Foi então que perguntei a alguns portugueses do meu convívio, dentre eles um motorista de ônibus que estava parado em um dos pontos enquanto eu voltava da Universidade. Ele me disse que era tranquilo andar de bicicleta por aqui e que eu não teria nenhum tipo de problema, afinal ele não conhecia casos de acidentes envolvendo ciclistas. Você deve estar se perguntando: quem tem coragem de andar de bicicleta nas ladeiras de Coimbra? Eu te respondo: eu e quem mais gosta de sentir o vento no rosto e a liberdade que ela nos proporciona.

































Andar de bicicleta no Brasil, mais especificamente na cidade de São Carlos (São Paulo), é uma grande aventura e um grande risco à vida. Praticamente todas as vezes que saio de bicicleta pelas ruas lá, me acontece algum tipo de falta de respeito enquanto ciclista. Os ônibus e carros só querem saber de te ultrapassar e pra isto não importa se eles te derrubarão no chão, te darão uma fechada ou coisa do tipo... O importante é eles te ultrapassarem e saírem na frente, ganhando alguns milésimos de segundos em seus dias. Dentro da Universidade Federal de São Carlos, já cheguei a ser tirado da pista por um ônibus da Viação Atenas, já cheguei a ser fechado e xingado por um estudante que dirigia seu carrinho com destino ao refeitório, já cheguei a atingir um carro em movimento de um funcionário quando o mesmo não respeitou a minha preferencial, etc. Em meio a todos os acidentes que acontece por lá, tenho sorte de não ter sofrido nada grave.



No meu primeiro dia de pedalada por aqui, estava bastante apreensivo. Lembro-me que descia pela Avenida Sá da Bandeira na faixa exclusiva para ônibus quando de repente percebi que havia um deles atrás de mim. Imediatamente comecei a pedalar o mais rápido que podia, pensando que se caso eu não fizesse isto, ele começaria a buzinar e daria início a um processo de ultrapassagem sem segurança para mim. Que nada! Ele continuou andando atrás de mim sem nenhuma alteração de curso até o momento em que tive a oportunidade de liberar a passagem para ele. Mais tarde, andando por outras ruas da cidade, percebi que os carros que vinham atrás de mim também não me ultrapassavam enquanto eles não tinham a oportunidade de fazer isto com segurança tanto para mim quanto para o próprio motorista e os outros componentes do trânsito. Fiquei muito feliz ao perceber que este fato se repetia sempre, em todas as partes da cidade. Há respeito no trânsito, as pessoas não têm pressa e dirigem de forma segura! Me sinto muito bem e sem medo de dividir o asfalto com os outros meios de transporte aqui em Coimbra!

Outro aspecto bastante importante e marcante aqui na cidade são as faixas de pedestres. Todas elas (com exceção das que possuem semáforos) têm duas placas azuis (uma de cada lado da rua) com o desenho de um pedestre atravessando. Os motoristas (e ciclistas) ao verem a faixa de pedestre, o alerta das placas e uma pessoa posicionada na calçada com a intenção de atravessar, imediatamente param o veículo e dão a passagem para o pedestre, independentemente da velocidade que estejam vindo, das condições climáticas ou do humor. Comigo já aconteceu de algumas vezes não pararem, mas aproximadamente 9 em cada 10 motoristas param e os que não param podem ser multados. Espetacular! Me sinto importante quando desejo atravessar uma rua!































Na cidade de Santos (São Paulo - Brasil), por exemplo, isto não acontece. Um pedestre que queira atravessar a rua na faixa de pedestres tem que aguardar todos os carros passarem por ali ou então deve humilhadamente esticar um dos braços para frente para que os motoristas o vejam e decidam se param ou não para ele atravessar. Pelo menos comigo, esta medida criada pela companhia de tráfego da região nunca adiantou lá.

Sinto que será muito difícil ter que voltar para o trânsito brutal, egoísta, inseguro e caótico do Brasil. Será que um dia ele passará a ser igual ao trânsito de Coimbra? Eu espero que sim e que isto aconteça o quanto antes!

bottom of page